terça-feira, 18 de novembro de 2008

Meu nome é crise

Bem... No meu quarto post faço uma pausa. Não uma pausa no blog, mas uma pausa nos meus escritos mesmo. Aí passo para vocês um texto de Frei Betto, que recebi por e-mail. Frei Betto é adepto da Teologia da Libertação (algo que não me agrada muito, por sinal), mas é um texto interessante, sobre esse bafon aí de crise mundial que ouvimos todo dia em todo lugar. Enfim, o texto...

Há tempos não se falava tanto de mim como agora. Tudo por causa de uma crise no sistema financeiro. A África anda, também há tempos, em crise crônica - de democracia, de alimentos, de recursos; quem fala disso?

Existe ameaça de crise do petróleo; governantes e empresários parecem em pânico frente à possibilidade de não poder alimentar 800 milhões de veículos automotores que rodam sobre a face da Terra.

No último ano, devido ao aumento do preço dos alimentos, o número de famintos crônicos subiu de 840 milhões para 950 milhões, segundo a FAO; mas quem se preocupa em alimentar miseráveis?

Meu nome deriva do grego krísis, discernir, escolher, distinguir - enfim, ter olhos críticos. Trago também familiaridade com o verbo acrisolar, purificar. Ao contrário do que supõe o senso comum, não sou, em si, negativa. Faço parte da evolução da natureza.

Houve uma crise cósmica quando uma velha estrela, paradoxalmente chamada supernova, explodiu há 5 bilhões de anos; seus cacos, arremessados pelo espaço, deram origem ao sistema solar. O sol é um pedaço de supernova dotado de calor próprio. A Terra e os demais planetas, cacos incandescentes que, aos poucos, se resfriaram. Daqui a 5 bilhões de anos o sol, agonizante, também verá sua obesidade dilatada até se esfacelar nos abismos siderais.

Todos nós, leitores, passamos pela crise da puberdade. Doeu ver-nos expulsos do reino da fantasia, a infância, para abraçar o da realidade! Nem todos, entretanto, fazem essa travessia sem riscos. Há adolescentes de tal modo submersos na fantasia que, frente aos indícios da idade adulta, que consiste em encarar a realidade, preferem se refugiar nas drogas. E há adultos que, desprovidos do senso de ridículo, vivem em crise de adolescência...

Resulto da contradição inerente aos seres humanos. Não há quem não traga em si o seu oposto. Quantas vezes, no trânsito, o mais amável cidadão arremessa o carro sobre a faixa de pedestres; a gentil donzela enfia a mão na buzina; o aplicado estudante acelera além da conveniência! Não é fácil conciliar o modo de pensar com o modo de agir.

Estou muito presente nas relações conjugais desprovidas de valores arraigados. Sobretudo quando a nudez de corpos não traduz a de espíritos e o não-dito prevalece sobre o dito. Felizmente muitos casais conseguem me superar através do diálogo, da terapia, da descoberta de que o amor é um exercício cotidiano de doação recíproca. O príncipe e a fada encantados habitam o ilusório castelo da imaginação.

Agora, assusto o cassino global da especulação financeira. Acreditou-se que o capitalismo fosse inabalável, sobretudo em sua versão neoliberal religiosamente apoiada em dogmas de fé: o livre mercado, a mão invisível, a capacidade de auto-regulação, a privatização do patrimônio público etc.

Dezenove anos após fazer estremecer o socialismo europeu, eis-me a gerar inquietação ao mercado. A lógica do bem-estar não lida com o imprevisto, o fracasso, o inusitado, essas coisas que decorrem de minha presença. Os governantes se apressam em tentar acalmar os ânimos como a tripulação do Titanic, enquanto a água inundava a quilha, ordenou à orquestra prosseguir a música...

Tenho duas faces. Uma, traz às minhas vítimas desespero, medo, inquietação. Atinge aquelas pessoas que não acreditavam em minha existência ou me encaravam como se eu fosse uma bruxa - figura mitológica do passado que já não representa nenhuma ameaça.

Minha outra face, a positiva, é a que a águia conhece aos 40 anos: as penas estão velhas, as garras desgastadas, o bico trincado. Então ela se isola durante 150 dias e arranca as penas, as garras, e quebra o bico. Espera, pacientemente, a renovação. Em seguida, voa saudável rumo a mais 30 anos de vida.

Sou presença frequente na experiência da fé. Muitos, ao passar de uma fé infantil à adulta, confundem o desmoronar da primeira com a inexistência da segunda; tornam-se ateus, indiferentes ou agnósticos. Não fazem a passagem do Deus "lá em cima" para o Deus "aqui dentro" do coração. Associam fé à culpa e não ao amor.

Acredito que este abalo na especulação financeira trará novos paradigmas à humanidade: menos consumismo e mais modéstia no padrão de vida; menos competição e mais solidariedade entre pessoas e empreendimentos; menos obsessão por dinheiro e mais por qualidade de vida.

Todas as vezes que irrompo na história ou na vida das pessoas, trago um recado: é hora de começar de novo. Quem puder entender, entenda.

Frei Betto é escritor, autor de "Cartas da Prisão" (Agir), entre outros livros.


Ah, esse texto foi publicado no site do Jornal Correio do Brasil. (http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=146218)

É isso!


Beijos e tchaus!

sábado, 8 de novembro de 2008

Café. Mas com creme de coragem.

Pois bem, cá estamos novamente. Músicas me agradam. Agradam de forma que só eu consigo compreender. Eu não preciso nem usar drogas, basta apenas ouvir uma música, em determinado momento, que começo a viajar de forma muito louca. Às vezes me imagino no palco cantando, no palco tocando, no palco dançando, tudo isso ao mesmo tempo ou até mesmo pura e simplesmente na platéia. O que importa é que me imagino na música.

E eu escuto de tudo. De tudo mesmo. Apesar de ser fã de Hard Rock, não me prendo a ele. A música é um campo muito amplo para eu me prender a estereótipos. Até mesmo porque estereótipo vem de estereotipia, que significa, entre outras coisas, repetição indefinida, automática e inadaptada à situação de sons, gestos ou palavras, segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, eletrônico, da Editora Rideel. A música não pode se prender a essas coisas, ela é muito maior.

Enfim, ultimamente tenho escutado uma música legal. Antiga, mas legal. Do Ira!, banda que nem sou fã – por sinal, conheço muito pouco –, mas que tem uma sonoridade legal e letras muito interessantes. Como eu gosto de sonoridade e letra, então ficou ótimo. A música se chama Núcleo Base e o que me chamou atenção nela foi o refrão. Claro, como toda composição artística, uma parte da obra não deve ser analisada em exclusão de outra. Mas é assim que quero e é assim que vai ser.

Eu tentei fugir – não queria me alistar

Eu quero lutar, mas não com essa farda

Eu tentei fugir – não queria me alistar

Eu quero lutar, mas não com essa farda

Mas não com essa farda. Mas não com essa farda

Caramba. Acho que esse é o refrão que mais teve significado para mim nos últimos dias. Tantas vezes tenho tentado fugir de certas situações pelo medo de enfrentá-las. Tipo, eu quero agir, mas não do modo como as coisas se apresentam pra mim. Sei lá, acho que eu não deveria ser assim. E muitos são como eu. Acho que todos não deveriam ser assim. Mas a gente é, né?

Aí a gente é indiferente às coisas. Porque, tipo, quando a gente não age, a gente nem faz a coisa ser resolvida, nem faz com que ela se estrague de vez. A gente apenas ignora. A gente acha que ignora. Mas ela fica batendo sempre na gente, sempre nos lembrando. Então, na verdade, a coisa só piorou. Com a indiferença, só fizemos com que a coisa saísse de um nível ruim, pra um pior ainda.

Mas o refrão não só tem esse modo de ser visto. Tem outro (e deve ter mais meio milhão, depende da subjetividade de cada um), e é isso que me agrada. Às vezes a gente está pronto pra enfrentar a coisa, mas sabemos que a nossa atitude pode influenciar uma série de outras eventualidades, e aí a gente trava. Parece será mesma coisa que eu disse anteriormente, mas não é.

A primeira é fruto de covardia, de medo. Essa não. Essa é fruto de uma mistura de coisas: consciência, cuidado com nossos pares, enfim, uma coisa mais relativa ao outro do que o fruto de um egoísmo que é o medo e a covardia. É aquela coisa de não querer magoar o próximo. Por exemplo, o que você quer fazer é algo admirável, algo bom, mas que você simplesmente não sabe se já é bom o suficiente para fazer aquilo para o outro. Aí a gente não faz até que, algum dia (quem sabe!), a gente seja bom o suficiente. Mas será que a gente vai ser?

Bom, tenho que pensar. Não sei muito o que dizer por hoje. E como diria essa música, já está ficando tarde e eu estou muito cansado.

PS: Essa ainda não é a periodicidade que pretendo ter, mas já diminuiu bastante! Se continuar assim, o próximo post saí em duas semanas. Mas vou tentar escrever semana que vem mesmo...



Beijos e tchaus!